Nos meus quase 4 semestres de faculdade completos, ou seja, metade do curso, já posso afirmar ter certa noção sobre assuntos que dizem respeito ao jornalismo e à imprensa em geral. E tenho certeza sobre uma questão: ser jornalista é uma responsabilidade imensa, ou como diriam os paulistas: uma puta responsa meeeeu!
Lendo a Piauí de janeiro - sim, aproveito o feriado nessa cidade-fantasma para botar em dia a leitura das minhas revistas, incluindo os exemplares do verão - parei para pensar em como uma matéria pode influenciar a vida de uma pessoa. Todos já devem conhecer o estilo dessa publicação, para quem não sabe é uma revista voltada ao jornalismo literário que busca, acima de tudo, qualidade e não quantidade. Apesar de ter umas 60 páginas, em média, as mesmas não são ocupadas por mais de uma reportagem. Muito pelo contrário, cada matéria pode chegar a ocupar 10 páginas de uma edição. E olha que a letra é bem miúda!(prometo oferecer dados mais concretos como o tamanho exato do corpo, assim que tiver mais aulas de planejamento gráfico, por enquanto aprendi apenas o que é paica - maldita paica!!)
Então, como ia dizendo, lia o exemplar de janeiro e me deparei com uma reportagem sobre o José Dirceu, intitulada "O consultor". A repórter fez um belíssimo trabalho, eu diria até que ela conseguiu escrever um verdadeiro perfil do ex-ministro Chefe da Casa Civil, envolvido no escândalo do mensalão. Mas o que um CORRUPTO como este teria a ver com a importância da imprensa?Absolutamente tudo.
Ao longo da reportagem, vamos conhecendo detalhes íntimos da vida do ex-deputado. Passamos a descobrir um outro Dirceu e percebemos as mudanças ocorridas na vida do mesmo, após o famigerado escândalo. A cada palavra lida, temos menos certeza a respeito da sua canalhice. Sim, ele parece completamente encaixado dentro da normalidade de um ser honesto, íntegro e preocupado com o bem do seu semelhante. A revista, em momento algum, parece ser parcial. Não o acusa e também não o defende, simplesmente descreve sua rotina de forma neutra. Isso mesmo, eu disse neutra. Não vivo uma utopia e sei muito bem a parcialidade do jornalismo atual, inclusive acho isso natural e necessário. Entretanto, contrariando qualquer previsão, a Piauí consegue ser neutra. Para mim, esta é a grandeza do chamado jornalismo literário, expor os fatos detalhadamente sem expor opiniões. O julgamento fica a nosso critério.
Voltando ao que me despertou para esse post, na reportagem, José Dirceu passa por vários momentos constrangedores em suas viagens. Poucos, mas suficientes inconformados o insultam com palavras de baixo calão, o xingam afuzel para dizer no português bem claro. Sim, e daí?Ele merece caramba, olha tudo o que o cara fez! Esse é o X da questão. Em momento algum, ele tenta os enfrentar, a todo instante engole a seco e leva os desaforos para casa. Também, em instante nenhum ele procura se defender, pois parece ter plena consciência dos atos cometidos no passado. A única vez em que demonstra indignação é quando fala de antigos "colegas" de trabalho, os políticos que fizeram de tudo para desmacará-lo, mas que, segundo ele, esqueceram para quem ia toda a dinheirama.
Longe de querer discutir o caso do já exilado e plastificado Zé, quero aqui refletir a respeito da imprensa. Somos - e já começo a me incluir nesse bolo- responsáveis por aquilo que vinculamos e, querendo ou não, acabamos influenciando a opinião da população. E estamos muito enganados quando pensamos nessa influência a partir de determinadas camadas sociais. Basta abrirmos um jornal para lermos que Sr. Fulano de Tal fora acusado de receber proprina do Sr. Sicrano. E aí mora o perigo. Corruptos, ladrões, sem-vergonhas, desonestos, ou quaisquer que sejam as categorias que os pilantras estejam inseridos, devem sim serem desmacarados. Os nomes sujos precisam manchar os jornais e serem escancarados na televisão. Mas é preciso ter cautela, é preciso ter certeza. É muito fácil estampar o nome de um acusado, porém, antes de um julgamento concreto, o mesmo continua sendo apenas acusado. O problema está na aceitação dos leitores e do público em geral. As pessoas que consomem as informações dificilmente esperam tal julgamento para fazerem os seus próprios. É muito mais simples imaginarmos um suspeito como réu culpado. Afinal, se tem algum indício é porque algo de errado já fez. A solução para isso? Talvez a diminuição da cobrança e da necessidade do tão famoso "furo". Não estou querendo defender Dirceus ou os 40 ladrões. Só penso nos danos provocados na vida de um ser humano pela "simples" publicação de uma notícia. Hoje, Dirceu abaixa a cabeça, mexe no celular e finge não escutar os xingamentos alheios. Foi a maneira que ele encontrou de não perder o controle e admitir sua culpa. Mas e outros tantos acusados, eu escrevi a-c-u-s-a-d-o-s, envolvidos em casos como o daquela escola paulista - Escola Base - que culpa alguma tinham?
sábado, 22 de março de 2008
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