quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Poltronas vazias e um aperto no coração

Todos sabem, sou uma defensora do cinema solitário. Ou melhor, da ida ao cinema de forma solitária. Com uma ressalva: certas companhias são aceitas, desde que haja um acordo mútuo entre as partes, incluindo a cláusula proibitiva de achar uma moral da história, no final. E ontem não foi diferente. Cheguei no shopping às 18h e a próxima sessão era às 19h. Após passear pelas gôndulas do Zaffari e comer um lanchinho básico no Mc, resolvi entrar na sala. Faltava 15min pras 19h, mas eu não tinha nenhum outro recurso de distração. Segui em frente. Sala 4 do Arteplex, inúmeras poltronas vazias, uma tela preta, eco, muito eco - caso seja possível quantificá-lo - e eu. Escolhi o lugar mais central que havia, sentei-me. Sensação estranha, reverberações, efeitos sonoros das outras salas e eu, sozinha...ou não. Não parecia estar sozinha. Macabro não? É...pela primeira vez começara a sentir pena de mim mesma por estar sozinha no cinema. A minha sorte é que brasileiro é atrasado, mas não desiste nunca e mesmo com toda a chuvarada que caía dos céus, alguma meia dúzia de gatos literalmente pingados criaram coragem e me fizeram "companhia". E tenho um palpite, o número de adeptos ao cinema solitário vem aumentando!
Eu sei, essa prática não é de um todo positiva, estou ficando um pouco chata com essa história. Um certo pânico de convites para ir ao cinema toma conta de mim. Pessoas solitárias ficam neuróticas, por isso estou tentando me cuidar. Não quero passar de uma bem-resolvida que vai ao cinema feliz e sozinha para uma louca, neurótica que não aceita companhias...
Mudando de foco, qual foi o filme desta vez? Linha de Passe. Aquele mesmo, aclamado em Cannes, do internacional Walter Salles. Algum comentário? Nenhum, a crítica diz tudo: "Atuações tão precisas que dão um aperto no coração", Thomas Sotinel, do Le Monde.

domingo, 7 de setembro de 2008

Dreaming of Julia...

Antes de tudo, um comentário: como alguém consegue viver sem objetivos?Simplificando, como alguém apenas aceita a condição de sobrevivente? Agora que estou apenas contando os dias para desbravar a tal da Cidade Luz, penso a todo instante como algumas pessoas conseguem fazer nada da vida. Eu que sou uma amante convicta do verbo ficar-em-casa-de-pijama-o-dia-todo, já estou prestes a entrar em colapso nervoso. Sim, eu passeio pelos parques porto-alegrenses, quando o aguero - não aquele desgraçido da seleção argentina - dá trégua por essas bandas. Sim, vou ao cinema. Sim, leio revistas, jornais, livros (livro no singular mesmo, mentir não faz bem) e principalmente blogs, muitos blogs maravilhosos que me fazem estar à frente do pc às 2h da madruga de um sábado ventoso e congelante. Faço mil programinhas e mesmo assim me falta um horário, sinto saudades de uma rotina. Acreditem! Louvem suas rotinas!
O que era para ser um comentário - vindo de uma pessoa prolixa como a que vos escreve - virou uma tese de doutorado. Sejam pacientes, é o tédio! Mas qual era o assunto mesmo? Ah claro, filmes. Antes de qualquer coisa - ou depois de muita já - na semana passada assisti a um filme italiano. Não fez meu tipo, eu realmente tenho uma paixão tensa pelos gauleses. Não que "Meu irmão é filho único" seja ruim, eu apenas não gostei. O que é muito diferente. Não me agradou o ritmo - totalmente acelerado - e muito menos os diálogos, barulhentos. Elegância zero. Entretanto, dei umas boas risadas. Boas mesmo. Eu, minha latinha de guaraná Antártica e meu super Mc Flury de Suflair. Em um programa totalmente light e solitário, assim como idas aos cinemas devem ser.
Pensando naquilo que me motivou a escrever, estou aqui para dizer que aguardo ansiosa a estréia de "Ensaio Sobre a Cegueira", ou para os mais modernos, Blindness. Já em tempos de desemprego, resolvi adquirir pela internet o célebre título do Nobel de literatura, José Saramago, junto com a biografia de Ayaan - ela mesma, do post logo abaixo. Mas, mesmo tendo uma enorme vontade de tê-los em minha humilde estante, resolvi antes ter a brilhante idéia de pesquisar no site da biblioteca da Pucrs. E, para meu completo entusiasmo - e porque não do meu cartão de crédito - ambos faziam parte do acervo da mesma. Estando eu, nesta época, em condição de aluna da Pucrs, lá fui, ao encontro dos mesmos. No final, só consegui ter em mãos Saramago, o que já valeu completamente o vale transporte do ônibus. Devorei as primeiras páginas em uma noite. Não sou uma leitora rápida não, inclusive, tenho uma manias - do tipo só parar de ler no final de um capítulo - que fazem da minha leitura algo bem nervoso e, por vezes, dramático. Mas, naquela noite de sábado, enquanto aguardava Serginho Groismann, li, e reli - é..eu releio muitas vezes uma mesma página - quase metade do livro. Apesar de algumas valas - abismos seria exagero - entre o português de Portugal e o nosso "brasileiro", a leitura é completamente agradável. A interpretação psicológica - não esqueçamos, o nome já diz tudo "ensaio" - é muito legal. Legal no sentido mais pleno da palavra...sabem? Aquela pessoa, aquele filme legalzão assim, que a gente pensa consigo mesmo, PUXA QUE LEGAL!Pois é...pode parecer uma visão idiota e medíocre para um livro escrito por um Nobel, mas para mim legal é o adjetivo perfeito. Muito melhor que maravilhoso, por exemplo.
Voltando às telas, sei que filmes sempre são decepcionantes diante de livros. Impossível um filme atingir nossa imaginação de forma plena, tal qual um livro, afinal de contas na tela vemos as imagens. Não temos chance de criar nossos próprios personagens, corta-se a capacidade do ser humano de "concretização" visual individual. O que está projetado, está projetado. Não tem mais volta. De qualquer maneira, vale a pena vermos de forma concreta aquilo que passamos dias apenas idealizando. A minha "mulher do médico", por exemplo, não tinha nada a ver com a Juliane Moore, ela que me desculpe!
Um livro sobre um fenômeno inexplicável, talvez apenas existente no inconsciente das personagens, uma loucura coletiva que leva a cegueira - talvez e, muito provável, de forma pejorativa- merece imagens. Ainda não sei se conseguirei assistí-lo no Brasil, dia 14 vou-me embora - e não é para Paságarda. Mas se tem algo ou alguém que me faz ter certeza que o ingresso vale a pena - além de Saramago, obviamente - é Gael Garcia Bernal. O pequenez ator mexicano. O mesmo pegador de "O Passado", o exato intérprete das várias faces, incluindo um travesti, em "Má Educação" e o também misterioso Kit - tá, o nome eu pesquisei - no filme que eu mais adoro, não sei bem porquê, em toda a minha existência: "Jogo de Sedução". Sim, o elogiadíssimo Ernesto Che em "Diários de Motocicleta", cujo prazer de assistir ainda não tive. Ele mesmíssimo está no elenco de Ensaio Sobre a Cegueira. SIM, paguei um pau gigante. A-do-ro. Ainda mais agora, após descobrir no wikipédia que o nanico fez um filme chamado "Dreaming of Julia"!