Encontrarmos uma pauta parece a tarefa mais árdua do jornalismo, quando, na realidade, ela está em todo o lugar, em todos que nos cercam. Ao entrar em um táxi, na Avenida Carlos Gomes, percebi que o responsável pela condução do veículo tinha algo especial.
Pessoas que falam demais são, muitas vezes, inoportunas. Ter que ouvir sobre a vida do outro, sem ter questionado sobre a mesma, parece cansativo e desinteressante. Pois desta vez não o foi.
Natural de São Gabriel, o senhor de cabelos tingidos ao estilo Grecin 2000 e cuidadosamente moldados para o lado direito, já no início da corrida, virou para o banco de passageiros e com um largo sorriso, arriscou o primeiro assunto. Com a voz rouca falou: “Eu tava ali só cuidando, vi que nenhum táxi parou, eu não sou bobo, me adiantei”. A expressão daquele olhar risonho cativa qualquer um.
Quando um carro se atravessa na frente do veículo, no trânsito que beira o caos,
A partir deste momento, sua vida e seu passado são desvendados em um percurso que não precisaria ter fim, mas que acabaria logo na Osvaldo Aranha. Ex-tenente das Forças Aéreas Brasileiras, o senhor de pele morena está vestindo um blazer de veludo. Segurando firme a direção revestida de couro marrom, ele divaga sobre o povo brasileiro. Com um bom salário que a Aeronáutica o garante, ele afirma não necessitar deste trabalho para sobreviver. Mas não consegue entender como alguém pode ficar em casa, podendo viver melhor, ganhar mais dinheiro.
Aos companheiros de profissão ele manda um recado: “ Me chamam de nego pão-duro, mas no final, quem aproveita sou eu. Eles fazem festa, não têm dinheiro e suas mulheres pesam 100kg. Eu sou casado com uma polaca desde os 15 anos que pesa 54kg, tenho duas filhas formadas e no final de semana pego meu carro e vou para a minha casa na praia.”
Criado por uma família de alemães, o ex-aviador era de família pobre. Sua mãe o entregou para Luiz, um alemão que nunca dera um sorriso. Mas, que garantiu oportunidade de uma vida melhor ao menino. “Entrar para o exército sendo negro era coisa rara, mas o alemão disse que eu não seria faxineiro”, conta orgulhosamente o simpático homem.
Para ele, nordestino é sinônimo de vagabundo. Quando sobrevoava a região, percorria campos de irrigação, de fazendeiros ricos e, logo em seguida, deparava-se com a seca e a pobreza do povo miserável. “Pura vagabundagem, não abriam valas porque não queriam”. Apesar de achar alemães e italianos bastantes frios, admira o povo pela sua luta: “Estes sim são trabalhadores”.
Apesar da faceirice, há um nome que lhe causa aborrecimento, Luis Inácio Lula da Silva. Tal desgosto pode ser constatado pela alcunha conferida ao chefe de estado: “sapo barbudo”. Ainda assim, um recente aumento concedido aos militares parece ter melhorado a imagem do presidente junto ao esperto senhor. Não à toa, o aumento concedido ficou em média de 47%.
Quando o taxímetro marca R$10,00, chega ao fim a “carona”. Uma história de vida, narrada em alguns minutos, que se vai pela Felipe Camarão. Quando pergunto seu nome, ele se apresenta: Castro. O primeiro nome não deve ser importante, especialmente para um ex-milico. Cordialmente, aqueles olhos sinceros e apertados se despendem. Fica a vontade de querer saber mais. Encontrar novas histórias de vida de algum outro anônimo que tem como fama a realização pessoal.
terça-feira, 17 de junho de 2008
Simplesmente Castro
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2 comentários:
acho que ta na hora de escreveres sobre uma tal festinha ai!!!haha
Lindo perfil. Podias usar pro tiberio ou leonam!
:)
beijo
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