sábado, 19 de abril de 2008

Caso Isabella - a salvação dos problemas brasileiros

Isabella morreu de forma cruel. Isabella era uma pequena criança indefesa e foi assassinada de forma maligna. O caso está prestes a ser completamente desvendado e, o pior de tudo, o ato final, aquilo que a fez perder a vida de vez, deve ter sido cometido por seu próprio pai.
O caso parou uma nação, o acontecimento é uma pauta de extrema relevância e eu, assim como muitas mulheres e, principalmente, aquelas mães, ainda estou chocada. Porém, a imprensa está errada.
A notícia merecia grandes reportagens e coberturas. O julgamento poderia até gerar um Plantão da Globo, mas houve exagero. Houve exagero na Recorde, onde até maquetes reproduzindo o local do crime foram criadas para o programa do Superpop. Deixemos de lado a qualidade do mesmo e de sua apresentadora, esqueçamos o lado positivo da saída encontrada para que se produzisse algo diferente na mídia. Prestemos atenção na maneira como as coisas foram conduzidas. Jornalistas viraram investigadores criminalísticos e discussões baseadas em dados não concretos só levaram o espectador a mais dúvidas.
A população ficou sensibilizada de uma forma geral, portanto a menina mereceu sim todas as homenagens prestadas desde a sua morte. A mãe precisava de palavras de carinho, de conforto. Assim como essa mesma população aguarda o veredito final, parece que há um sentimento de justiça paira no ar. Mas a imprensa errou.
Eu me pergunto, quantas crianças são assassinadas por dia no Brasil?Quantas crianças não sofrem mais que Isabella na hora de sua morte?Minha intenção não reduzir o sofrimento da menina ou torná-la uma estatísca. A minha dúvida é: porque esse bombardeio de informações em volta de UM caso, quando temos milhares de outros a nossa volta?
Sabemos que a violência se torna mais relevante, vira "mais" notícia quando atinge determinada camada social. Esse é o grande equívoco. Existe a pré-disposição do pobre ao trágico e ao desvio de conduta. Explico.
Aqueles de classes menos favorecidas, com condições (?) de vida mais precárias têm maiores justificativas para cometerem determinados atos. A sociedade acaba perdoando um menor infrator, se esse for pobre, sem pai, com a mãe prostituta. Enfim, se não existe uma família "convencional", se esse menor não recebeu o suporte para formação de seus valores, ele tem grandes chances de seguir pelo mal caminho e isso não nos espanta. Um homem desempregado, com problemas de alcoolismo e traído pela esposa pode matá-la com 20 facadas. Não, ele também não pode, ele é tão louco e descompensado quanto Alexandre Nardoni, mas, teoricamente, suas justificativas são mais válidas, mais aceitáveis.
Minha comparação foi extrema, o caso de Isabella choca por ela ser com uma criança e choca muito mais pois não é todo dia que alguém é atirado do 6º andar do prédio. Só que chegou uma hora que cansou. O limite do sensacionalismo foi ultrapassado. O desenrolar da história está sendo demonstrado na imprensa de uma maneira tão detalhada e exaustiva que irrita. Não sei se mais alguém tem esse sentimento, mas eu começo a pensar que ela morreu, o pai e a madrasta foram os culpados, mas chega, não temos mais o que fazer, ela está morta. Isso é simplesmente horrível e me sinto uma pessoal fria, sem sentimentos, quando penso assim, mas foi justamente a imprensa - meu futuro campo de atuação - que provocou o mesmo em mim.
Fotos e vídeos da menina quando viva são mostrados há todo o instante. Não há espaço para descansarmos, não deve haver forma da mãe assistir televisão. Há 19 dias os telejornais são abertos do mesmo jeito, com a chamada para o "caso Isabella". E o mais impressionante, na maioria das vezes as informações não têm caráter de novidade, apenas repetem-se. Evidente, concorrência é um fator determinante em jornalismo, não sejamos utópicos. Mas tudo tem um limite.
A Zero Hora publicou durante pelo menos 1 semana páginas inteiras a respeito do crime. Infográficos, fotos e reproduções gráficas foram usadas para preencher as colunas do veículo. Era necessário a utilização de uma página, mesmo que nessa o leitor não encontrasse nenhuma informação nova? O jornal O Sul publicou ontem, data do aniversário da menina, um editorial em homenagem à Isabella. Palavras bonitas e tocantes preenchiam as linhas. Era de ficar arrepiado e ficar em prantos, mas por que só Isabella merece tudo isso?
Está na hora de pararmos para pensar que talvez este caso não seja tão isolado assim. Até a menina de 12 anos - vejam que eu sequer lembro seu nome - que era torturada por sua mãe adotiva foi deixada de lado. E o menor que apavorou Novo Hamburgo por sua frieza na hora de confessar, segundo ele, 12 assassinatos?Onde estão os outros problemas do Brasil? E a política que tanto "dá o que falar" em Brasília? Tudo foi esquecido.
Caso Alexandre e Anna Carolina sejam condenados, tenho certeza que ficarão presos, apesar das condições financeiras para que isso não aconteça - sabemos a diferença que a grana faz em um julgamento. A população determinará essa condenação, ou acabará fazendo justiça com as próprias mãos. Para mim, a pior condenação é a culpa que ambos carregarão para o resto de suas vidas. Ao menos o pai que, apesar de tudo, parecia amar a menina.
Sorte dos outros tantos assassinos, impostores, ladrões e corruptos do nosso belo país, estes sim estão vibrando com a cobertura da imprensa. Estes estão livres da pressão da sociedade, do julgamento da população e da fúria dos protestos. Esses "só" têm de se entender com as próprias consciências.

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