No semestre que passou, cursei a cadeira de Humanismo e Cultura Religiosa. É a antiga e famosa aula de religião, apenas com um novo nome. Acho um absurdo - mesmo sendo uma universidade católica - termos de cursar uma cadeira do gênero. São 4 créditos destinados à religião, o mesmo número de créditos destinados à cadeira de Redação, por exemplo - a qual eu acho fundamental para um futuro jornalista. De qualquer maneira, devo admitir, a cadeira era muito boa. Confesso, devo ter assistido 25% das aulas, mas isso se deveu, principalmente, ao fato da mesma acontecer às 17h35min. Técnica é essencial, porém não podemos deixar as questões humanas em um canto obscuro. Mas, vamos ao que interessa. Pois bem, um dos trabalhos desta cadeira era escolher uma religião e apresentá-la para a turma; power point, aquela coisa toda.
Eu e a Bruna decidimos pesquisar sobre o Islamismo, até porque ela teve um professor nos tempos de colégio que é mulçumano e poderia nos orientar. No final, ele acabou indo até a nossa aula para dar uma pequena palestra. É incrível como temos nossos pré-conceitos estabelecidos. Acreditamos em uma verdade de tal maneira que nada nos convence do contrário. Enquanto apresentávamos, antes do nosso convidado chegar, surgiu uma certa polêmica a respeito do suposto tratamento dado às mulheres daquela religião. Falou-se em dedos cortados, em surra e tudo aquilo que sempre ouve-se por aí. Pois foi ele chegar pra discussão cessar. Ele mostrou uma visão e disse que o grande problema está na confusão das pessoas entre a religião Islâmica e culturas. Árabe é tudo mulçumano, mulçumano é tudo do Oriente. Idéias como esta, completamente deturpadas, nos fazem julgá-los de maneira equivocada.
Não sei se foi por respeito, sei que as mulheres revoltadas da sala de aula permaneceram caladas. Quando o convidado abriu espaço para perguntas, eu tive que tomar partido e tocar no assunto "mulher". Novamente, segundo ele, tudo não passa de uma generalização errada, onde fundamentalistas, xiitas, sunitas e radicais caem no mesmo caldo que os outros mulçumanos.
Ultimamente, tenho me interessado muito por este assunto. Fui à missa estes tempos e fiquei completamente decepcionada com o discurso do padre. Sou católica, batizada e com primeira comunhão. Mas sempre fui nada ortodoxa. Na época da catequese, marcávamos novelos de lã em nossas ovelhas cada vez que íamos à missa dominical. Claro, minha ovelhinha era praticamente pelada. Acredito em Deus, não em sua personificação e todo aquele papo de barbas e cabelos compridos. Acredito - como já escrevi inúmeras vezes por aqui - em uma força maior, sei lá. Tenho fé, isso é o mais importante e acredito nas pessoas. Também sou bastante adoradora de alguns santos da minha religião. O predileto é o São Longuinho, não me deixa na mão nunca!!
Com a perda da minha crença na religião católica especificamente, tenho me interessado em ler e conhecer novas correntes, religiões e credos. Gosto bastante da doutrina espírita, mas acredito estar longe do preparo necessário para uma conversão. Na verdade, não penso em me converter. Acho que cada um tem a sua fé, não importa o nome que essa leva.
Voltando ao assunto em questão. Não quero gerar grandes polêmicas. Apenas acho que é importante nos informarmos antes de sairmos pensando bobagens. Um dos preceitos do jornalista é buscar o maior número de versões para um mesmo fato. Não é porque ouvi uma aula de um mulçumano que mudei completamente meu pensamento. Até porque, algumas idéias já estão bastante arraigadas em mim. É dificil compreendermos algo tão distante, entendermos práticas completamente fora do comum para nós. É preciso nos abrirmos para este assunto, assim como acho que outras culturas precisam estar abertas para a nossa.
Uma das frases mais marcantes daquela aula foi sobre a questão do fundamentalismo, dos terroristas e do uso da fé para as guerras. Ele falou algo como "tá, todo mulçumano é Osama Bin Laden e os Católicos? São todos como Hitler?". Realmente, nunca havia para pensar nisto. E agora vejo a mídia como uma das maiores culpadas por esses sentimentos. A imprensa coloca todos no mesmo saco, a imprensa chama de Jihad, a tal da Guerra Santa. Está na hora de nos preocuparmos com as palavras, pois elas fazem toda a diferença.
Voltando à história do Hitler, hoje estava lendo alguns sites de notícia e achei uma resenha sobre um lançamento literário: O Islã, de Paulo Daniel Farah. No livro, ele apresenta justamente a visão de um mulçumano sobre a sua religião. Procura mostrar a problemática da generalização e do preconceito. E no trecho transcrito cita justamente esta comparação entre mulçumanos e católicos, usando o nome de Hitler. Para quem se interessar: http://www1.folha.uol.com.br/folha/publifolha/ult10037u338745.shtml
Mas, como falei anteriormente, tudo tem dois lados. Ou mais. Eu, particularmente, acredito haver um exagero por parte do povo Ocidental quando o assunto é Oriente e religião Islâmica. Entretanto, nunca estive perto para saber realmente o que acontece. Assim, ao menos por enquanto, só a leitura das mais diferentes visões poderá ao menos fazer com que possamos opinar sobre o assunto.
Há algumas semanas, esteve no Fronteiras do Pensamentos Ayaan Hirsi Ali, escritora nascida na Somália, conhecida pelas críticas ao Islã. Molestada ainda na infância, Ayaan vive cercada por seguranças, com medo, em uma verdadeira prisão. Sua pior e mais concreta ameaça de morte foi em novembro de 2004, quando o cineasta Theo van Gogh foi morto a tiros em Amsterdã por um marroquino, que em seguida o degolou e lhe cravou no peito uma carta em que anunciava sua próxima vítima: Ayaan Hirsi Ali. Os dois foram responsáveis pelo documentário Submissão, no qual há uma crítica veemente ao tratamento das mulheres daquela religião. Para que também estiver a fim, este é o link do documentário, retirado do site do Fronteiras: http://www.fronteirasdopensamento.com.br/fronteiras-do-pensamento/multimidia/
Entre muitas dúvidas que ainda tenho sobre o assunto, uma coisa eu tenho certeza, não podemos falar sobre aquilo que apenas assistimos na televisão, sob o olhar de um repórter. Precisamos aprender, precisamos nos educarmos para aceitar as diferenças. Não é fácil, muito pelo contrário. Não basta publicar uma campanha contra o preconceito. Esse processo é lento e, talvez, nunca entendamos o outro. Compreender é praticamente impossível. Basta respeitar.
sexta-feira, 11 de julho de 2008
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6 comentários:
djulai!!! que leitura agradável,que texto bem escrito,que orgulho te ver escrevendo assim.
"É dificil compreendermos algo tão distante, entendermos práticas completamente fora do comum para nós. É preciso nos abrirmos para este assunto, assim como acho que outras culturas precisam estar abertas para a nossa."
Pra mim,melhor texto do teu blog...continua nessa!
beijos
Brigada chininha du mon couer!!A gente tem que conviver com outras culturas, assim como nós convivemos pacificamente, sendo tu completamente Oriental girl!heheehhe
Pitocas
Acho incorente da tua parte falar td isso, vc fala em respeitar as religiões e conhece las melhor mas a tua propria religião vc não conhec e ainda fala mal???acho uma vergonha essas pessoas como vc que são catolicos de Censu e ainda por cima falam mal da sua própria religião!!!!
Em primeiro lugar, caro anônimo, eu não falei mal da "minha" religião, pois "falar mal" é dizer coisas sem fundamento. Sair por aí chamando islâmico de terrorista é falar mal sem conhecer. Em segundo lugar, o que sabes da minha vida para dizer que não conheço minha própria religião? Caso eu achasse que esta é totalmente infundada e equivocada, já teria me convertido, abandonado de vez a igreja católica. A minha crítica é a crítica de alguém que vive no ano de 2008 e não pode mais conviver, ou pelo menos aceitar, determinados dogmas da igreja católica como a condenação à pílula e à camisinha, por exemplo. Mesmo assim, sei que a igreja não é nada sem seus dogmas tradicionais e, por incrível que pareça, não acredito na mudança pois, paradoxalmente - mesmo sem aceitá-los - sei que o dia em que a instuição igreja mudar, o mundo estará perdido de vez. Precisamos de visões conservadoras, mesmo que essas sirvam como maus exemplos, para evoluírmos. Por último, caso não tenhas captado o sentido do meu texto, aqui vai a explicação sobre o mesmo: falar a respeito do islamismo, utilizando o mesmo como exemplo para os pré-julgamentos e condenações que cometemos a todo o momento por falta de informação.
Júlia querida
Estava eu, eu uma noite de sexta feira, sentada, estressada... resolvi entrar no msn, foi quando te vi online e ao lado estava o teu blog. Resolvi entrar e ver o que era, primeiramente pensei que fosse um blog de fotos... mas quando comecei a ler o primeiro texto sobre religião fiquei completamente presa no texto. AO mesmo tempo que lia tal matéria tão interessante, ao mesmo tempo fiquei surpresa, como uma menina de 19 anos, a puber, pode entender de assuntos que muita gente da tua idade sequer sabe o que é, e melhor, ainda tem uma facilidade extrema de falar sobre tal assunto. Meus parabéns amiga, adorei ler teus textos e te confesso que eles fizeram a minha sexta feira mais feliz.
Candi, tia querida!!hehehe Obrigada pelas palavras, fico mtu feliz em saber que alguem leu meu texto e, principalmente, gostou!Nossa...poder fazer o dia de alguém mais feliz então, nem se fala!Brigadão!
Ahh eu tenho 20 já viu????hahahahahaahha
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